Herbarium

Ela morava em um sítio com a família quando recebeu a notícia de que ali se instalaria um primo doente que viria da cidade.
Ele chegou, o coração dela pulava...
Com o passar do tempo, apaixonou-se...
Fazia de tudo para ser notada: - 'Diante dele, mais do que diante dos outros, tinha de inventar e fantasiar para obrigá-lo a se demorar em mim como se demorava agora...'
A doença dele não era comentada na casa. Falar de doença era assunto íntimo.
O primo era botânico. Propôs à ela que o auxiliasse num projeto: montariam um herbarium, uma coleção de folhas raras. Como ela queria ficar perto do primo, aceitou a proposta. Saía todos os dias procurando folhas exóticas, não pelas folhas, nem pela botânica, nem mesmo pela montagem do Herbarium, mas pelo primo. 'Era medrosa, mas arriscava pés e mãos por entre espinhos, formigueiros e buracos de bichos procurando a folha mais difícil, aquela que ele examinaria demoradamente.'
Radiante com o tempo que passavam juntos, a menina surpreendeu-se quando num dia encontrou uma folha em formato de coração. O espírito adolescente fez desse evento um sinal místico: a folha em forma de coração simbolizaria o amor entre os primos: -'Quando lhe entreguei a folha de hera com formato de coração ele beijou a folha e levou-a ao peito'
Certo dia a jovem encontra uma folha muito estranha: -'vi uma folha que nunca encontrara antes, única. Solítaria. Mas que folha era aquela? Tinha forma aguda de uma foice, ...com pintas vermelhas... como sangue. Uma foice ensangüentada.' Mas o que tal folha simbolizaria? Retornando à sua casa, a jovem recebeu a notícia de que chegara ao sítio uma mulher muito bela, de uma beleza inigualável, que vinha buscar o primo que já estava de alta. A mulher era a namorada do jovem botânico. A menina entrou para lhe entregar a última cesta com folhas. O primo sentiu em seu olhar que ela escondia coisa. Então ela deu ao primo a folha com formato de foice ensangüentada. A folha simbolizava para ela a morte de um amor que durara pouco.