domingo

Lembranças de uma sonhadora II


Olhando um álbum de fotografias revia cenas de hoje, de ontem, de antigamente...
De repente passou pela minha frente
Uma imagem incoerente...
Entre recortes e retratos, estava lá uma bicicleta enorme... imensa
E sobre ela... um pingo de gente!
- Essa era eu!
Ampliei a foto, mas ela ficou difusa e eu, meio confusa, não distinguia a minha expressão.
Tive de fazer um ajuste óptico. Tudo ótimo! Achei-me na foto!
Sozinha, ria da bela menininha que eu via
Sorriso franco, sapato branco...
Pensei na ambiguidade daquele momento
Um sorriso: simplicidade; outro sorriso: sutileza
Quantos sorrisos e todos meus
Que complexidade! Eu mesma me fazia rir?
Uma imagem monólogo? Um monólogo visual?
Minha cabeça começou a girar, e meu pensamento
Sofreu um leve arredondamento
Parece redundância ou exageração, mas, para piorar a situação...
Olhei e lá no fundo do retrato...
Um gato... Meu gato de estimação!
Como ele estava longe... de mim... na foto... nas minhas memórias...
Um gato pequeninhindo lá no fundo... Memórias em profundidade...
Depois dessa lembrança, outras apareceram aleatoriamente e em profusão
Com espontaneidade, as formas criaram uma sequência louca, uma sobre a outra
O pé de lata, uma boca lambuzada que delata... a faixa de miss universo esconde o coração no verso, imagem opaca, as inocentes bolhas de sabão grudadas em espiral, tranparência sensorial, o pão de casa, vaga-lumes, praça iluminada e as marcas de pés pequeninhos e sujos na calçada, o grito...
Não era para pisar aí, menina!
O ruído visual assustou minha retina e acabou fragmentando meu pensamento...
Assim... como vieram, as imagens foram se distorcendo, minimizando e, com superficialidade, abandonaram-me como se não fossem minhas...
A clareza do objeto que via agora não deixara dúvidas de que eram fotos de um álbum.
Sob a transprência física do papel de seda, voltei a pensar com extrema coerência e guardei aquele objeto na caixa e guardei a caixa na última prateleira que fica dentro do armário da despensa e fui embora.
Mas, antes de sair dali, espiei pata trás e olhei para frente... e, de repente, na minha frente, vi uma imagem surpreendente...
Que estranha obra de arte compunha aquele espaço da minha vida!

Nenhum comentário: