Sara Aboobakar Fakir
Era uma vez um coração. Vivia só num lugar longínquo, rodeado de sonhos. Tinha cerca de quarenta anos de vida, longa caminhada percorrida, muitos embates sofridos e inúmeras palpitações. Por anos vivera dorido, angustiado, e por muitos fora magoado! Já nem triste sabia ser, este coração, quando um dia decidiu, retirar-se. Mais ninguém o magoaria. Reformou-se!
Vivia os dias tranqüilos, e as noites sem sobressaltos. Sonhava. Sonhava...
Pelo sonho, viajava em ilusões fantasiadas. Navegava... A bordo das gaivotas, esvoaçava pelas transparências do Índico, em busca de tranqüilidade. Aprendia a viver. Era feliz o coração!
Pelas estrelas do Índico, seus novos amores, vagueava! Sonhava as ilhas das doces fragrâncias, perfumadas por árvores de mil cheiros. Embriagava-se de exóticos perfumes. Era feliz...
Pertenciam-lhe já os mistérios, as belezas, os perfumes, as cores... os labirintos e ruelas com sabor de canela, amava-os já!
Sonhava nas praias de sonho.
Até que um dia...
Inesperadamente, surgiu um outro coração. Aquele amigo de longa data, daqueles anos sofridos, a quem suas mágoas ia contar!
Feliz, por ter seu amigo de volta, eis que o coração, do seu lugar longínquo decide regressar!
Carente, já velho e cansado, depressa ao amigo se abriu. Desprevenido.
Juntou-se ao outro coração e, foi feliz! Esqueceu-se até das estrelas, seus amores. Esfumou-se o sonho das ilusões fantasiadas; o sonho nas praias de sonho, e do seu espaço longínquo regressou. Ficou novo, rejuvenesceu. Deixou de sonhar.
Um ano depois, chora de novo ferido, magoado e muito magoado o coração.
Tinha sido um pesadelo!
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